Na testa de um menino
interrogação a carvão
numa pergunta à espera
de longa reposta em mimos
sobre seus passos aqui.
Mal e mal compreendida
a pergunta, ofendida,
adormeceu sobre si.
Pendente ficou a vida
nos sapatos de cadarços
tão pequenos, largos passos
pouca vida, tanta lida
No aparato dos sertões
da razão tantos senões
sola gasta, solo e pasto
hipóteses mil à espera
de tudo onde a vida opera
num grão de areia ao vento
solidão do pensamento.
A sós indagou-se à quimera
num desejo tão comprido
correndo em vão ressequido
de alicerce não cumprido
Curta resposta secava
tão só secava, secava de apenas ser
curiosidade trancada.
Secava tão devagar
o segredo de viver
era terra a beber lágrimas
trapézio a voar vazio
um sonho dependurado
marcas de choro no estio
Mesma terra que me sonha
e, na idéia, coleciona
rios qual o Jequitinhonha.
Ficara a vida parada
ou nada, que o nada é nada?
Anjo errante a virar páginas
provava que o descaminho
de uma reposta fechada
une em roda a ciranda
_que não parece, mas anda_
Vacila à beira ninho
o retorno à mesma espera
daquela pergunta amarrada
na garganta do menino
se for ou não, mas seguia,
no enroscado do imbé
no vôo do curiango
entre o fandango e o banjo
o porque se desfazia
cicio em assovio
em respostas, travessia
ponte do abismo à fé.
[PS: então o menino chorou vales atravessou e conheceu a maré, óbvia reposta calada,à imensidão do nada]
Autora : Elane Tomich
2 comentários:
brigada pela postagem...Parabéns pela edição
Elane
Tenho acompanhado seu trabalho, Elane, e vejo nos seus poemas uma grande força nas imagens que você propõe. Neste poema, a primeira imagem posta é muito forte "uma interrogação a carvão na testa de um menino". Quem é este menino que segue "largos passos, pouca vida, tanta lida" com "uma pergunta amarrada na garganta, se for ou não mas seguia, enroscado no imbé, no voo do curiango, entre o fandango e o banjo". Há momentos, sinto que este menino, com a interrogação a carvão na testa, somos nós, atravessando a vida nestas lindas imagens vistas por você nas suas caminhadas pelo "poetar", as vezes tristes (o estigma do carvão na testa) e também lúdicas/sonoras com o voo do curiango, o fandango e o banjo. Beijo carinhoso procê/Cícero
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