Destaque :

A Rocco lança um blog especial sobre QUE PAIS É ESTE? , de Affonso Romano de Sant`anna: http://quepaiseesteolivro.wordpress.com/

sábado, 10 de abril de 2010

AnadeAbrãoMerij


I.
_ no silêncio , a saudade habitada _

[ poema para meu Pai]


existiu um tempo em que :
* a felicidade sentava-se todos os dias no peitoril da janela..."
* Jorge de Sena



na ramada de úmidos lírios

a casa suspira aromas de primaveras

como se de um cesto de frutas colhidas frescas

a pureza de infâncias derrama-se sobre a mesa



enquanto o tempo aprisiona a tua eternidade

semeio-te vento onde respira a nossa história

nos jardins, nas clareiras, nas azinhagas, no ar



assim, de ti me acerco com os olhos exaustos da luz

entre as esquinas da memoria a pastorar os silêncios

onde respiram as velhas canções de ninar teus cansaços

como um poema ferido de amor sob o látego da insônia



assim,
de ti me acerco nas madrugadas de ausências irremediáveis
pelos cantos desocupados
onde procuro-te nesse vazio que nada preenche
como se a morrer-me em oferta consagrada

para atingir-te :
uma vez
outra vez
e mais outra

porque ainda caminhas:
[- por essa dor insaciável! ]


Autora: AnadeAbrãoMerij

2 comentários:

Maria João disse...

Através de um poema estroficamente pouco vulgar e rico de conteúdo, a autora retrata a dor e a beleza de uma relação sobre a qual a morte não tem qualquer poder ("... porque ainda caminhas:/-por essa dor insaciável").
Trata-se de um poema pungente que arrebata o leitor e fica a fermentar dentro dele.
A força e tensão dramáticas que caracterizam a Poesia de Ana Merij estão bem presentes neste Poema. Parabéns, Nana!
Um abraço
Maria João Oliveira

anamerij disse...

Querida Maria João, vc. conseguiu capturar integralmente opoema e ador-nele contida.
Seu olhar e comentário, pousam aqui, como estímulo e vontade de prosseguir na escrita.
Obrigada e meu carinho, nanamerij