Março
Morre Mãe! Abre uma cova perto da tua extinção no calendário, para que possas assistir inútil, só com um murmúrio de lágrimas, ao permitido pelo Demónio.
Em Fevereiro aflige a proximidade dessa destruição. Mas sabes mãe, já não te abato mais com o que escrevo; é Março, o mês de voltar a nascer.A memória acelera para se encostar ao presente com o avançar dos dias de Março.
Estou no lado da margem, perto à minha imagem retenho uma sensação inócua de que cada ano que passa algo se esquece do corpo e sobe lembrança para a mente. E depois cheira.
Ri Mãe, ri! Já não alcanço a memória ou afasto as letras que te escrevo ou murmuro alto… Aumentam-me as veias nos antebraços, mais forte no direito. Tenho medo que o calendário me avarie os braços e as árvores e as flores e as aves não possam mais sair pelos dedos.
Sei Mãe, talvez deva abandonar o teu corpo nas borbulhas da outra margem e camuflar o buraco que Março menciona perto da memória do calendário com uma ponte de suspiros débeis para a vida não cair enganada.
Autora: Ana Maria Costa
2 comentários:
Obrigada pela postagem neste lindo blog, Ana.
É um prazer estar no meio de grandes escritores e amigos.
beijo
Gostei do blog! Como fasso para postar minhas poesia aqui? Um abraço
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